quarta-feira, 14 de março de 2012

Cap.18 - Forever Dead

Daniel correu em direção a Urano com toda sua velocidade. Segurava a espada na mão direita e deixava o braço firme, mas ao mesmo tempo lançado ao vento. Urano não se movia, permanecia encarando Daniel enquanto os dois anjos caídos que o acompanhavam encaravam Natanael na beira da estrada.
Então Natanael percebeu um leve abalo no tecido da realidade, era uma armadilha e Daniel estava indo direto para ela. Natanael jamais perdoaria Daniel por sua traição, ele havia escolhida uma humana ao lugar dele, havia escolhido ser mais leal às suas paixões que aos seus deveres e por isso Natanael pagou com a vida.
Ele foi ferido pela espada do próprio irmão e por isso sua essência se perdeu no cosmo, mas anos, talvez milênios depois, o Pai a reuniu novamente e deu a Natanael uma segunda chance, uma "segunda vida", vida essa que Natanael escolhera passar dedicando ao ódio contra o irmão. Mas até mesmo ele podia ver a diferença que o tempo e as cicatrizes causaram em Daniel... ele estava mais humano e menos angelical, mais forte talvez, ele podia ver a culpa que para sempre ele carregaria. Então Natanael ponderou por um segundo e decidiu ajudar o irmão mais novo na batalha, mesmo não sabendo contra quem lutava, se alguém mataria Daniel, esse alguém seria ele.
- Daniel! É uma armadilha! - Natanael gritou, mas era tarde.
Os dois anjos caídos moveram-se com extrema rapidez, nem mesmo Natanael pôde vê-los. Acertaram Daniel enquanto ele ainda corria, um deles empurrou o peito do renegado com um soco enquanto o outro veio por baixo e na direção oposta chutando suas pernas. Daniel girou no ar por um breve minuto e caiu de costas no chão, fazendo um som seco como um saco de ossos se chocando contra o asfalto. A espada foi lançada para longe e agora Daniel estava desarmado.
Foi a vez de Urano se mover, ele correu na direção de Daniel e direciou um soco diretamente para o coração do renegado, o ponto fraco de qualquer anjo materializado e mesmo que ele já não fosse somente um anjo, sua fraqueza ainda estava presente.
Daniel rolou para o lado no exato momento em que a mão de Urano fez o asfalto rachar num potente soco. Daniel procurou a espada, mas ela estava longe, teria que passar por eles com suas próprias mãos.
Daniel tentou se levantar, mas então percebeu que os dois servos das trevas seguravam seus braços e Urano se levantava para um novo ataque. Ele estava perdido, mas não desistiria assim tão fácil. Quando Urano se lançou em sua direção pela segunda vez, Daniel usou toda a força que tinha e puxou um de seus braços, fazendo o demônio que o segurava ficar entre ele e Urano.
O soco atravessou o demônio e um grunhido de dor foi ouvido, o anjo caído cuspiu sangue, o soco havia acertado exatamente em seu coração, ele estava morto. Urano recuou, não esperava por isso.
Enquanto tentava se livrar do segundo demônio, uma breve brisa passou por ele e o som de uma lâmina foi ouvida, tudo o que viu depois foi a cabeça do segundo demônio rolando pelo chão ao seu lado.
Daniel olhou para trás e lá estava Natanael de pé, a espada no braço esquerdo, já que o direito havia sido atingido, o sangue ainda escorria do ferimento. Natanael não olhava para Daniel, ao contrário, usou a mão direita, mesmo debilitada e atravessou o corpo do demônio arrancando seu coração, jogando ele o mais longe que conseguiu.
- Não esperava por essa... - Daniel admitiu.
- Pode me agradecer depois, irmãozinho, mas ainda tem que acabar com esse seu amigo. Ele não é um anjo, não é um demônio e nem é humano... O que ele é? - Natanael perguntou?
- Longa história, te explico depois, mas que tal uma ajudinha? - Daniel não perdia a chance de ser irônico.
Natanael não esperou Daniel se levantar e partiu para o ataque contra Urano, mesmo sem saber o que ele era, sabia que nada nem ninguém poderia resistir à sua espada, ela já derrotou homens, anjos e demônios, quem era ele para poder resistir?
Urano desviou dos ataques de Natanael como se eles estivessem em câmera lenta. Daniel pegou sua espada e foi contra Urano, ele desviava dos anjos como se eles estivessem brincando, mas estava ficando cansado. Sabia que não tinha chances em um combate direto. Ele desviou da espada de Natanael e acertou um soco em seu estômago, fazendo o anjo se socar contra uma árvore perto dali.
Daniel não desviou do seu objetivo, ele e Urano continuaram lutando, Urano acertou alguns socos enquanto Daniel feriu Urano algumas vezes. Eles estavam exaustos.
Então um outro disparo foi ouvido, mas dessa vez foi o ombro de Urano que começou a sangrar. Natanael achara a arma que o acertara e agora usava ela contra o elemental.
- Dói ser atingido por uma bala no ombro não é, sua vadia? - Natanael disse. - A próxima vai em seu coração.
Urano se virou para encarar Natanael e começou a mover suas mãos, talvez estivesse conjurando algo, mas Daniel percebeu. Antes que pudesse concluir o que pretendia, Daniel cortou um dos braços de Urano fora, fazendo o elemental urrar de dor, até mesmo os céus tremeram por um instante. Natanael aproveitou a oportunidade e disparou novamente, contra o coração do elemental.
Urano sangrava, sangue escorria de seu braço amputado e do ferimento em seu peito. Para não ter chance de erro, Daniel fincou a espada no peito do elemental, fazendo ela atravessar seu corpo. Urano caiu no chão, o corpo inerte e fechou os olhos devagar. Um grande estrondo foi ouvido nos céus, como se eles estivessem sendo partidos, a terra tremeu e por um momento a lua e as estrelas desapareceram e tudo o que restou foi um breu tenebroso.
O corpo do elemental se iluminou e então explodiu, uma grande massa de energia sendo espalhada pelos arredores, dissipando-se pelo ar, as estrelas ressurgiram assim como a lua. De certa forma Daniel entendia os motivos de Urano, ele havia sido traído por Gaia, assim como ele traíra Natanael, podia entender a dor do elemental.
Daniel cambaleou até sua moto, estava exausto e ferido, precisava descansar. Natanael também estava na mesma situação, olhou para o irmão e peguntou:
- Será que agora pode me explicar quem era aquele cara?
- Será uma longa história. - Daniel disse.
- Você me conta enquanto descansa e depois eu te mato, ok?
- Por mim tanto faz.



















Continua..............................................................................................

terça-feira, 13 de março de 2012

Cap.17 - Night of Hunter

Se aquela tinha grandes chances de ser sua última viagem, Daniel queria abandonar sua existência decentemente, queria encontrar a morte dirigindo uma harley-davidson. Daniel comprou um dos primeiros exemplares a sair, no início dos anos 1900, rodou por todo continente americano sobre ela, comprou outras coisas ao longo dos anos, mas a moto tinha um valor especial. Daniel era amigo de Arthur Davidson, um dos criadores da moto, um dos poucos humanos com os quais Daniel teve contato além do superficial, um amigo.
Ele caminhou pelas docas, na Praça Mauá, havia anos ele guardava ali suas coisas mais preciosas, as que tinham um valor mais importante para ele: a moto, jarros chineses presentes de antigos imperadores, espadas, armas, tinha até um par de baquetas que ele ganhou de Ringo Starr.
Abriu o container, uma nuvem de poeira emergiu de lá. Deu uma última olhada em suas coisas, presentes, aquisições, sua própria história e disse mesmo sem acreditar:
- Eu vou voltar.
Ligou a moto e um ronco sonoro ecoou pelo lugar, alguns vigias tentaram ver de onde vinha o barulho, mas só puderam ver um raio passando por eles. Um cavaleiro solitário em seu cavalo de metal. Uma jaqueta de couro muito surrada, jeans velhos, botas de couro e uma katana presa às costas, era tudo o que ele tinha, era muito mais do que ele precisava.
Levou apenas um dia até ele chegar ao estado de Goiás, dentro de pouco tempo ele estaria em Brasília, muito antes do previsto, muito antes do combinado com Bruna e Odin.
Um turbilhão de pensamentos passava por sua cabeça, o sol já se punha de novo no horizonte, ele gostava daquela sensação, o vento batendo em seu rosto, a liberdade, ele quase podia tocá-la. Acelerou mais, podia ouvir o ronco da moto, quase suplicando para não ir além daquele ponto, mas ele ignorava, ele precisava tocar a liberdade, precisava daquilo, uma última vez. Então ao longe, cortando seus pensamentos e sensações ele pôde ver. Parado na estrada, de pé, vestido como ele, mas com a diferença de que a figura tinha a espada em punho e apontando para ele.
Daniel freou, foi freando até quase parar de frente para a figura que o encarava, fazia muito, muito tempo desde o último encontro. Séculos talvez. Ele desceu da moto e desligou o motor, tirou a espada das costas e a segurou em posição de luta, talvez ele morresse antes do planejado... não, ele não podia, a garota precisava dele.
- Olá, irmão. - O desafiante olhou para Daniel, analisando com cuidado, planejanto, como um leão prestes a devorar sua presa.
- Olá Natanael. - Daniel disse devagar, com cuidado, a primeira lembrança do irmão aina o machucava.
- Você parece com pressa. - Natanael disse ironicamente - Espero não estar te atrasando.
- Sempre tenho tempo para uma reunião de família. O que você faz aqui?
- Bom... desde de que você me traiu por aquela mulher demônio no início dos tempos... Bom, quando o Pai reuniu minha essência novamente, você sabe muito bem o que eu te prometi: uma eternidade de sofrimento.
- Estou ciente disso. - Daniel disse - Mas que tal se você me aliviasse hoje, preciso matar uns principados.
Natanael armou a espada, colocou-se em defesa e partiu para o ataque, como um leopardo furioso, nada parecia poder detê-lo. Daniel preparou a defesa, se teria que lutar com o irmão que assim fosse, se precisava morrer pela mão dele, talvez fosse merecido, mas ele faria de tudo para evitar que fosse hoje.
O som do metal se chocando ecoou pela estrada. Daniel girou para a direita e tentou acertar um golpe nas costas de Natanael, mas o anjo percebeu a investida e lançou-se para trás. Natanael abriu suas asas e tentou uma investida aérea sobre o irmão, mas foi inútil, Daniel aprendera a se desviar daquelas investidas, ele se jogou no chão e rolou para o canto da pista, tudo o que ouviu foi o som da espada de Natanael contra o asfalto.
A luta seguia feroz, violenta, Natanael feriou Daniel no braço, deixando um filete de sangue escorrer, enquanto que Natanael tinha um pequeno filete escorrendo do supercílio, originado de um soco de Daniel enquanto o anjo estava com a guarda baixa.
Então se ouviu um disparo ao longe, uma arma, a bala atravessou o ombro de Natanael e o fez largar a espada. Daniel parou de atacar e procurou o dono do disparo.
Das sombras surgiram duas figuras medonhas, pareciam anjos, ou foram anjos, mas agora ao passavam de corpos mortificados. À frente deles estava um antigo conhecido de Daniel... Urano, o elemental. Ele segurava uma pistola e obviamente fôra ele que fizera o disparo.
- Isso é um assunto pessoal, Urano, eu resolvo. - Daniel gritou.
- Não acho que seja o caso. - Urano disse, sua voz estava diferente, uma aura negra parecia cobrir o elemental... uma aura infernal. - Primeiro vou deixar meus amigos aqui esfolarem seu amigo aí e depois eu vou arrebentar seus miolos e deixar eles espalhados na estrada.
- Você pode tentar.
Daniel não tinha parado pra pensar na situação, Urano estava do seu lado, por que então ele tinha dois demônios como guarda-costas? Espíritos escravos. Por que?
- Você quer me explicar o motivo disso, Urano? O que houve, você estava do nosso lado! - Daniel gritou.
- O Quinto Arcanjo roubou Gaia de mim! Ele tirou minha esposa, e agora tenho que salvar a humanidade? Tenho que ver o fruto da traição, o fruto da desgraça salvando todo o povo da terra? Encare os fatos! Seu Pai nos abandonou! Lúcifer fez uma oferta melhor e eu aceitei.
- Ele vai matá-lo logo depois que eliminar os arcanjos!
- Não se eu matar ele primeiro. - Urano falou decidido.
- Irmão, me dá uma licença? Um pequeno contratempo, mas já já continuamos de onde paramos. - Daniel disse para Natanael.
- Vá em frente, estarei esperando. - O anjo falou calmamente enquanto se apoiava em uma pedra na beira da estrada.
Daniel virou-se na direção do elemental e partiu para o ataque... o dia seria bem cheio e a noite agitada.













Continua.....................................