terça-feira, 19 de junho de 2012

Cap. 22 - Castle of Glass

Sarah exigia mais do carro do que ele poderia dar, a picape mesmo com toda a sua potência não era capaz de romper a barreira do som e naquele exato momento era do que ela precisava. Daniel olhava ansioso para estrada sem emitir nenhum som, seus músculos contraídos, era pedia baixinho para o Pai, onde quer que ele estivesse, para que pudessem chegar a tempo. Natanael olhava para os dois completamente tensos na frente, mas sua cabeça estava voando... Ele estava muito longe dali. Achava aquilo tudo muito engraçado, afinal ele passou os últimos milênios caçando o irmãos pelas eras, esperando a oportunidade de destruir ele, de obter sua vingança, mas agora ele estava ali, diante dele e ainda o estava ajudando.
Mas ele se sentia diferente agora, não tinha mais tanta raia do irmão. Claro, uma aprte dele jamais perdoaria Daniel, mas pela primeira vez em milhares de anos ele se sentia realmente vivo, não movido apenas por uma vingança, mas por algo maior que nem memso ele sabia explicar.
Estavam na entrada da capital quando ouviram sirenes ao fundo. Inicialmente Sarah achou que a polícia estava vindo atrás dela, mas quando eles passaram direto por ela, Sarah percebeu que eles estavam indo na direção de algo ainda maior e mais perigoso... Um prédio em chamas logo à frente.
Natanael apontou para as chamas no alto do prédio, mesmo à distância ele podia ver 4 formas se movendo no fogo, lutando e ele reconheceu Lilith e Astaroth.
- Para lá! Sua garota está ali, irmãozinho e ela não está sozinha. - Natanael disse
Sarah pisou ainda mais fundo, mas uma explosão ocorreu antes que ela pudesse chegar. Todo o andar em chamas de repente explodiu formando um cogumelo de fogo no centro da cidade. Então um corpo começou a cair pela janela... Era Bruna, ela estava inconsciente e estava indo em direção ao chão.
Com o carro em movimento, Daniel abriu a porta e se lançou para fora do mesmo. Suas asas rasgaram sua pele e sua blusa e abriram-se como se um grande falcão estivesse pronto para voar. Antes que seus pés pudesem tocar o chão ele alçou vôo, subindo como um raio na direção de Bruna, conseguiu pegar ela em seus braços, desestabilizou-se um pouco, mas conseguiu pousar no chão em segurança, logo em seguida a protegendo de uma rajada de estilhaços que caiu sobre eles.
- Bruna! Você está bem? - Daniel perguntou
- Eu... Lilith... Eu estou bem. - Ela balbuciou quase inconsciente.
Neste exato momento, Sarah parou a picape na frente deles e Natanael abriu a porta traseira. Daniel levantou Bruna nos braços e a colocou na traseira do carro, Natanael terminou de ajeitar a garota no carro e desceu. Antes de Sarah arrancar com o carro novamente, Daniel deu algumas instruções:
- Leve ela daqui, a gente se encontra daqui a 2 dias em Palmas.
- Como você vai me encontrar? - Sarah perguntou
- Eu te acho. - Foi tudo o que Daniel respondeu.
Daniel fechou a porta e Sarah arrancou novamente com o carro, saindo da cidade. Natanael olhava para o irmão, as asas manifestadas assim como o irmão, dois anjos no centro da cidade em chamas.
- É hora de fazermos nosso trabalho. - Daniel disse
- A Lilith é minha. - Natanael disse e disparou para o alto, indo como águia para as chamas.
Daniel seguiu o irmão e quando entrou no quarto, viu o cenário da destruição. Tudo estava em chamas, Odin estava caído num canto do quarto, quase desacordado enquanto Astaroth estava em cima dele, socando o mais forte que conseguia, fazendo escorrer sangue por todo o rosto do elemental.
Daniel tentou scar sua espada, mas aí lembrou-se de que ela havia desaparecido na explosão do motel na beira da estrada. Só restava a ele lutar com os próprios punhos. Ele lançou-se na direção de Astaroth empurrando para longe de Odin, fazendo o demônio desaparecer por um momento nas chamas, só para que ele ressurgisse mais furioso.
Astaroth riu enquanto seu terno pegava fogo e expunha seu corpo queimado pelo inferno. Ele sorria de satisfação.
- Finalmente a diversão vai começar! HAHAHA!
- Eu só vim aqui pra te destruir, não se engane. - Daniel disse
A batalha entre os dois começou, Astaroth investia rápido contra o renegado, forçando Daniel a recuar, mas então Daniel conseguiu  virar a situação quando acertou um soco direto no peito do demônio, fazendo este cair no chão de joelhos. Mas Daniel abaixou sua guarda e recebeu um soco direto no queixo que o fez girar no ar.
Natanael sacou sua espada angelical e imediatamente ela se materializou, ele recolheu suas asas, usaria todas as suas energias contra Lilith, esperava por aquilo há muito tempo.
- Olá, vadia do inferno.
- Olá, idiota celestial.
Ela sacou uma pequena adaga de um bolso em sua calça que logo se materializou em uma espada de lâmina curva. Natanel investia com fúria dando pouco espaço para a demônio lutar, seus golpes eram certeiros e fortes, fazendo ela recurar em direção as chamas.
Enquanto isso Daniel se recuperava do golpe recebido, ainda estava atordoado e logo Astaroth subiu em cima dele começando uma série de socos, enquanto gargalhava e gritava.
- Ué! Acho que me enganei, você é só mais um merda de um anjinho! Depois que eu matar a você e seu irmãozinho aqui, vou arrancar a cabeça daquele velho ali - disse apontando para Odin - e vou atrás da sua queridinha e você não tem idéia das torturas que tenho em mente para ela! HAHAHA! Será tão prazeroso quanto foi matar aquele velho, dono do motel na beira da estrada!
Uma fúria incontrolável dominou o anjo... Tinha sido Astaroth que havia matado o idoso, Asmodeus apenas queimou o lugar. Os olhos do renegado começaram a brilhar com uma luz intensa, tão forte que forçou Astaroth a levar as mãos aos olhos para cobri-los. Todo o corpo do renegado se iluminou, ele se levantou do chão derubando o próprio Astaroth no chão. Um forte invadiu o lugar fazendo as chamas se apagarem no mesmo momento, parecia que um furacão havia entrado pela janela.
Uma espada surgiu na mão de Daniel, a katana de Susano´o estava de volta ao seu poder ela brilhava como seu dono. Daniel descreveu um arco no ar com a espada que lançou o demônio em uma parede que cedeu ao impacto derrubando Astarot do outro lado do cômodo com uma parede desabando sobre ele.
O renegado caminhou sobre a parede que prendia o demônio e sorriu.
- Você foi pesado, você foi medido e considerado culpado de seus crimes, Astaroth príncipe das legiões infernais. E seu reinado acaba hoje.
Daniel levantou a mão, seu punho estava rígido como uma pedra e ele deu um soco na parede abaixo dele que estilhaçou, sua mão ultrapassou os destroços e atingiu o coração de Astaroth, fazendo o demônio urrar de dor.
- NÃO! PARE! EU SOU ASTAROTH!
Mas Daniel não recuou, ele fechou sua mão e arrancou o coração do demônio que por um brev momento viu o órgão pulsar na mão do anjo. Daniel esmagou o coração do demônio como se fosse um biscoito que se esfarela com facilidade. Astaroth deu seu último grito de dor que ecoou por toda a cidade e finalmente seu corpo começou a queimar, se desintegrando em cinzas e se espalhando ao vento.
Natanael se distraiu com a ação do irmão, o que deu a Lilith a chance de investir um golpe direto no coração do anjo. Mas o próprio Daniel percebeu isso e lançou sua espada na direção da demônio, decepando-a. Lilith urrou com a dor e saiu correndo, se lançando pela janela afora.
O corpo de Daniel voltou ao normal, mas o anjo estava estafado pelo esforço e caiu no chão com o corpo quase inerte. Natanael pegou o irmão em um dos braços e olhou para Odin:
- Consegue andar?
- Consigo, vamos temos que sair daqui. - Odin dizia com a voz fraca, ele também estava muito ferido.
Eles tentaram mover-se o mais rápido que podiam pelos destroços a fim de chegar na escada de incêncio para finalmente escapar daquele prédio.











Continua................................................

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Cap. 21 - Assassin

- Filho da puta! - Daniel gritou no meio da estrada vazia a quem pudesse ouvi-lo, mas ele sabia que estava tão no meio do "nada" que provavelmente seus xingamentos só seriam ouvidos pelos pássaros e por Natanael.
Natanael estava centado perto das cinzas de onde, algumas horas atrás, era o hotel de beira de estrada. Provavelmente o corpo do idoso responsável pelo hotel jazia ali, largado, abandonado e queimado. Era estranho para o anjo reconhecer a imortalidade da carne humana e a imortalidade de seu espírito, a essência de Deus em cada humano, aquilo que ainda os ligava aos reinos celestiais, era tão simples, mas ao mesmo tempo complexo demais. Nem mesmo ele, um dos anjos mais antigos do céu, sabia o que acontecia exatamente com as almas humanas.
- Mas que merda! De todas as coisas que ele poderia fazer... Ele TINHA que destruir a minha moto? Eu comprei aquela moto com o próprio Harley! Você sabe o que isso significa? Que eu vou arrancar o coração de Asmodeus com minhas próprias mãos. - Daniel ainda bufava de raiva.
- Precisamos sair daqui, pelo que você me disse sua amiga está em perigo. - Natanael dizia calmamente.
- Eu sei disso, irmão. - Daniel se acalmou - Mas no momento não vejo saídas para a posição em que estamos, precisaríamos de um milagre para sair daqui.
- Poderíamos nos desmaterializar ou expor nossas asas.
- Eu fui proibido de me desmaterializar, lembra? E ainda que eu exponha minhas asas não terei energia suficiente para chegar até Brasília. Precisamos de um veículo, um bem rápido.
- Acho muito difícil encontrarmos nessa estrada. Deveríamos começar a caminhar, pelo menos estaríamos nos movendo.
Daniel ponderou as palavras do irmão, ele estava certo. Precisavam ao menos começar a se mover, talvez o milagre realmente acontecesse, Brasília não estava tão longe afinal, eles já estavam em Goiás. Mas ainda havia uma coisa que Daniel precisava fazer antes de partir, um dever que ele mesmo se imputara.
Ele caminhou até os destroços e começou a levantar algumas vigas, sua força acima da média humana e sua agilidade facilitaram o trabalho. Natanael o observava, mas não ousava perguntar o motivo daquilo.
Daniel continuou remexendo nos destroços até que aparentemente achou algo. Pegou uma  viga caída e usou como apoio para levantar os destroços restantes. Natanael se aproximou e finalmente entendeu o que o irmão estava fazendo. Daniel se abaixou e pegou o corpo inerte do homem que os atendera na noite anterior. Ele o levantou nos seus braços e o removeu dos destroços, caminhou para longe das cinzas do lugar, sua roupa estava chamuscada, mas Daniel não se importava. Ele aprendeu a respeitar os humanos, mesmo na morte há muito tempo.
Ele começou a cavar um pequena cova no chão, o suficiente para abrigar o corpo e impedir que alguma chuva expusesse o mesmo. Colocou o corpo lá dentro e orou baixinho, entregando o espírito daquele pobre homem à Deus, onde quer que ele estivesse.
- Por que fez isso? - Natanae perguntou.
- Respeito aos mortos, meu irmão.
- E por que isso é necessário?
- Uma vez, eu estava em um antigo campo de concentração judeu. Minha tropa havia acabado de dominar os nazistas e enquanto eles eram fuzilados pelo meu pelotão, alguns homens estavam abrindo as celas dos prisioneiros. Homens em um estado que você provavelmente não encontraria nem nas masmorras do inferno. Foi então que eu vi, uma criança saiu correndo para longe de sua mãe quando viu o corpo de seu pai jogado em um canto. Ela começou a pegar um pouco de neve e jogar por cima do corpo, tentando enterrá-lo. Um ato de respeito e amor, isso realmente me fez entender muito sobre a natureza do ser humano. Talvez eles não sejam todos amorosos, muito pelo contrário, alguns tem um potencial enorme para a destruição, mas ainda há amor neste mundo.
- Daniel, você mal conhecia este homem, como pode ter amor pela vida dele?
- Eu não o conhecia, mas ele foi pai de alguém, filho de alguém, irmão de alguém... Ele teve família, sua passagem neste mundo não foi em vão.
Daniel se calou. Natanael ainda não entendia o porquê daquilo, mas sabia que era importante para seu irmão, ajudou ele a colocar a terra sobre a cova e então começaram a caminhar pela estrada.
O calor estava insuportável, eles já caminhavam há mais de uma hora e nada de achar nenhum carro. Não queriam admitir mas estavam começando a achar que caminhariam para sempre. Então começaram a ouvir uma sirene vindo na direção deles, primeiro baixa e depois o som foi aumentando. Era uma picape Hilux pertencente à polícia federal, eles dirigiam rápido na direção dos dois anjos, não aparentavam que parariam ao chegar perto deles.
Então quando estavam quase em cima dos dois celestiais a picape deu giro abrindo a porta lateral para eles. Dentro, uma mulher ruiva, não aparentava mais do que 30 anos, vestia uma camisa social azul claro e uma calça jeans comum, usava botas de caminhada... Ela era linda.
- Quem é você? - Natanael perguntou
- Quem é você, perguntou eu! - A mulher respondeu.
Depois de alguns segundos observando a mulher, Daniel finalmente a reconheceu... Aquela era Sarah, a mestra de Bruna, mas o que ela estava fazendo ali? Era para ter chegado à Brasília há pelo menos 1 dia.
- O que houve, Sarah? - Daniel perguntou deixando a mulher suspresa pelo reconhecimento.
- Você a conhece? - Natanael perguntou
- É a mestra da garota que te falei.
- Ah sim. - Natanael estendeu a mão - Eu sou Natanael, algoz do meu irmãozinho aqui.
- Já ouvi falar de você Natanael, o querubim do Éden. - Sarah disse
- Fico lisongeado.
- Entrem precisamos sair daqui o mais rápido possível, a polícia já chegou no lugar da explosão do hotel e logo estarão aqui!
- Por que você não está em Brasília? - Daniel perguntou ao entrar no carro.
Sarah acelerou o mais rápido que pôde, fazendo os pneus cantarem e até memso Natanael segurou no braço da porta.
- Meu avião foi retido no Rio de Janeiro, algo sobre mau tempo... Mas precisava chegar o mais rápido possível em Brasília.
- O que está acontecendo, Sarah? O que não está me contando?
- Daniel... Astaroth e Leviatã estão em Brasília, você sabe o que isso significa? - Sarah parecia preocupada.
- Significa que ela está com um problema dos grandes... - Natanael disse do banco de trás.
- Os príncipes do inferno são o menor dos problemas. - Daniel disse
- E por que? - Sarah perguntou
- Porque, geralmente, o chefe deles sempre aparece depois. Temos que tirar Bruna de lá agora! Ela não será capaz de enfrentar Lúcifer sozinha. - Daniel disse
- Nem nós somos capazes de lidar com ele, irmãozinho.
- Temos que chamar reforços. - Sarah disse
- Mas quem? - Daniel perguntou
- Eu conheço um arcanjo que pode nos ajudar, e também temos os elementais. - Sarah disse
- Vamos nos preocupar em tirar Bruna e Odin de lá. - Daniel continuou - Mas me diga, por que está com o carro da polícia federal?
- Bom... Vamos dizer que eu compeli alguém a me emprestar. - Sarah percebeu o olhar de reprovação de Daniel - O que foi? Era o carro mais rápido que tinha ali!
- Corre, estamos sem tempo.
















Continua......................................................

sábado, 16 de junho de 2012

Cap.20 - Afterlife

O crepitar das chamas, os risos maquiavélicos de um demônio no meio das chamas, um anjo deixando este mundo numa explosão de luz, dor, lágrimas, suor... Tudo parecia tomar forma na cabeça de Bruna dando a ela o pior dos pesadelos e a mais dolorosa das lembranças: A morte de sua família. Sua mãe, seu pai e sua irmã... nada mais restava.
Ela acordou, lutava para segurar as lágrimas, lutava para conter a dor que tentava dominar ela toda vez que lembrava das chamas. Ela queria acabar logo com aquilo, não havia por quem lutar, ninguém que fosse tão importante para ela como sua família era. E agora eles se foram... Ela daria sua vida como sacrifício de bom grado.
Levantou da cama e caminhou até a janela do quarto, ela podia ouvir o ronco de Odin vindo do outro quarto. Encarou a escuridão do lado de fora, a lua reinava absoluta no céu, tão cheia, tão brilhante, tão linda.
A porta do quarto abriu lentamente, Bruna virou-se rápido e quase não conseguia acreditar no que estava vendo. Na porta, parada de pé diante dela, estava uma garota com seus prováveis 18 anos, cabelos negros e longos que desciam até suas costas. A garota usava calças jeans escuras, uma bota e uma camiseta branca muito surrada e com manchas vermelhas que se pareciam e muito com sangue. Mas Bruna conhecia aquela garota, conhecia ela tão bem que nao foi capaz de se mover, chorava como nunca antes em sua vida, não sabia o que sentir... Aquela era Natalie, sua irmã.
- Natalie? - Bruna tentava formas as palavras, mas sua mente estava inundada de perguntas e sentimentos.
Natalie caminhou até ela, estendeu sua mão para ajudar a irmã a se levantar. Não disse nenhuma palavra. Bruna pegou na mão da irmã e quase não acreditou... era real, mas como? Bruna sentou na cama com a ajuda de Natalie, as duas estavam frente a frente agora após tantos anos.
- Natalie, é você? - Bruna tentava organizar a mente.
Natalie apenas acenou com a cabeça e fez um sinal para que a irmã se calasse, ela parecia tensa, parecia nervosa, estava apavorada.
- Eu tenho pouco tempo, Bruna. - a voz da garota era musical, como a da irmã - Eu sei que você tem muitas perguntas, acredite eu também tenho, mas não podemos falar agora sobre isso. Eu sobrevivi ao incêndio de uma forma que até hoje eu tento entender. Uma mulher chamada Lilith ouviu batimentos cardíacos quase inaudíveis em meu coração, ela me deu seu sangue e então uma grande onda de choque passou por mim. Dor, lágrimas, força, sede, muita sede inundou o meu corpo. Ela me levou dali, me alimentou e cuidou de mim e me dava tudo o que eu mais queria... Seu sangue.
- Natalie, Lilith... Lilith é um demônio, ela tentou me matar!
- Eu sei, mas o sangue dela, o poder que ele proporciona, você ficaria maravilhada e tão viciada nisso quanto eu fiquei. Era impossível se afastar. Mas então coisas começaram a acontecer, dores, convulsões, ódio, raiva, a sede pelo sangue humano, pela guerra... Era como se ela própria estivesse controlando minhas emoções. Eu me tornei escrava de Lilith, eu abracei as trevas e encontrei conforto nelas. Eu já não tinha mais ninguém, até onde eu sabia você tinha morrido.
Natalie se jogou nos braços da irmã, Bruna a abraçou tão forte que sentia seus braços tremerem com a tensão. Ela podia sentir Natalie chorando, as lágrimas molhavam o braço de Bruna. Natalie soluçava, tremia, parecia que ia desmontar.
- Eu não conseguia parar Bruna! As coisas que ela me levou a fazer, o sangue... Me desculpa! - Natalie quase gritava.
- Está tudo bem Natalie, vai ficar tudo bem, eu to aqui. - Bruna tentava acalmar a irmã.
- Não Bruna! Não vai! Ela está vindo pra buscar você, você precisa ir embora!
- Quem está vindo me buscar? - Bruna começou a ficar tensa.
- Lilith, ela está trazendo Astaroth... Você precisa sair...
- O que você está fazendo aqui, Natalie? - Bruna se afastou da irmã.
Natalie levantou e encarou Bruna, seus olhos estavam diferentes agora, estavam vermelhos como o sangue. Bruna sentia que quem estava ali já não era mais sua irmã, não mais. O sangue de Lilith corrompeu Natalie, a levou a lugares onde nenhum humano deveria ir, deixou a irmã na beira de um abismo do qual não havia retorno.
Natalie sorriu, uma mistura de dor e fúria bailavam nos lábios dela. Bruna sabia que a irmã estava em algum lugar ali dentro só não sabia se seria capaz de tirar ela de lá. Natalie tirou uma faca que estava presa na bota, era uma pequena adaga que tinha um dragão entalhado no cabo de prata. A lâmina brilhava como a lua daquela noite. Bruna recuou.
- O que você vai fazer Natalie? Larga essa faca. - Bruna recuou, um grito surdo preso na garganta. Ela não podia usar suas chamas, não ali, não contra sua irmã.
- Desculpe irmãzinha... Eu preciso do seu sangue... Minha mestra precisa do seu sangue. - A voz outrora angelical agora tornara-se demoníaca.
- Você não precisa fazer isso, Natalie. Você pode ficar livre dela, deixa eu te ajudar.
- Eu não preciso da sua ajuda! Se estou onde estou é por culpa sua! Você me abandonou nas chamas, me deixou para morrer. Lilith me salvou! Lilith esteve ali comigo quando você me abandonou.
- Natalie, não é verdade, eu não sabia... - As palavras novamente fugiam da sua boca diante das acusações da irmã. Será que ela estava certa?
- Seu sangue será meu esta noite!
Natalie partiu para o ataque, Bruna estava sem reação, não havia como desviar da irmã sem machucá-la, não podia usar sua magia, não queria usar. Então quando a adaga estava perto de ser estocada em seu peito algo improvavél aconteceu.
Um raio cortou a escuridão do quarto e atingiu Natalie bem no meio das costas lançando a garota na parede. O corpo caiu no chão com a fumaça subindo do lugar. Tudo aconteceu tão rápido que Bruna mal teve tempo para reagir. Quando levantou a cabeça conseguiu ver Odin na porta do quarto.
- O que está acontecendo aqui? - Odin elevou a voz.
- Natalie, minha irmã. - Bruna apontou para o corpo inerte no chão.
- Impossível! - Odin se virou para o corpo - Natalie morreu no incêndio.
- Eu estou começando a achar que é muito pior do que isso.
Natalie novamente começou a se mover, mas dessa vez ela estava com mais raiva. Sombras emanava do lugar onde ela estava, seus olhos agora brilhavam com um vermelho vivo, seu rosto estava transtornado... Então era aquilo o que o sangue de um demônio podia fazer com um humano.
- Natalie, chega! - Bruna tentava gritar inutilmente para a irmã.
Natalie novamente avançou e as sombras dominaram o quarto, tudo ficou escuro como a mais densa noite. O medo pairava no ar e subitamente a porta do quarto bateu com uma violência impressionante.
Então uma explosão se ouviu, a janela do quarto foi estilhaçada faznedo chover vidro na calçada do lado de fora. Finalmente alguma luz entrou, a lua agora iluminava o quarto. Na ponta da janela estava Natalie, sorrindo como um animal ao encarar sua presa. Ela virou as costas e pulou da janela se lançando nas trevas da noite.
Bruna correu na direção da janela e procurou a irmã do lado de fora, mas era inútil. Natalie havia sumido.
- Mas que merda foi essa? - Odin tentava manter a calma
- Natalie é o menor de nossos problemas agora. - Bruna olhou para baixo e pôde ver uma mulher de longos cabelos negros entrando no hotel, ela usava um espartilho negro que a deixava no estilo femme fatale, ao seu lado estava um jovem, vestindo um terno armani de caimento perfeito, os cabelos curtos penteados para trás e um olhar ameaçador nos olhos.
- Lilith e Astaroth estão vindo.

















Continua....................................................................

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Cap.19 - Live to Rise

Daniel e Natanael pararam em uma daquelas paradas de caminhões na beira das estradas. Ambos estavam feridos e exaustos, precisavam se alimentar e precisavam dormir, descansar para que seus corpos pudessem se recompor. Quando estavam materializados na Terra, os anjos estavam sob as mesmas leis dos mortais e também precisavam se alimentar para que pudessem manter suas formas humanas.
Eles desceram das motos, entraram na lanchonete e procuraram um lugar para sentar junto ao balcão. O lugar estava lotado por caminhoneiros da madrugada que tomavam cafés e comiam frituras. Alguns deles bebiam cerveja e os mais ousados se aventuravam em bebidas masi fortes. O lugar fedia a gordura, mofo e suor, um símbolo da decadência e do mau cuidado.
- O que vão querer? - A garçonete perguntou no balcão.
- Duas cocas. - Natanael disse, seco.
A garçonete virou-se para buscar as bebidas e antes que Natanael pudesse falar algo, Daniel o olhou, incrédulo, não sabia que Natanael conhecia o planeta.
- Já esteve aqui antes? - Daniel perguntou
- Nesta espelunca? Nunca antes em minha existência.
- Quis dizer no planeta. - Daniel foi mais enfático.
A mulher retornou com as bebidas, Daniel tirou uma nota de dez reais e deixou em cima do balcão. Ele e Natanael dirigiram-se para fora do lugar, o ar ali dentro era insuportável demais para que os dois conversassem. Chegando do lado de fora apoiaram-se nas motos e começaram a beber.
- Ando por este planeta desde de que minha essência foi reunida, irmãozinho. Venho procurando por você há muito tempo. Atravessei as eras no seu encalço e finalmente te achei. Só para descobrir que você arrumou encrenca muito maior do que aquela que eu tinha planejado pra você.
- Acredite em mim Natanael, preferia ter que enfrentar você numa batalha de vida ou morte à ter que enfrentar o que estou enfrentando agora.
- Quem era seu amigo brilhante? - Natanael perguntou.
Daniel começou a contar toda história, desde de seu encontro há mais de 10 anos com Uriel, o irmão mais próximo de Miguel e seu aliado, até seu encontro com os tais seres conhecidos como elementais. Então falou sobre Bruna, Lilith e sobre tudo que ainda estava por vir: o Apocalipse da raça humana.
Natanael ouviu tudo, fascinado pela história, jamais poderia imaginar que seres como os elementais pudessem existir, superiores aos anjos, tão fortes quanto os grandes arcanjos. Tudo aquilo parecia surreal. Ele já tinha ouvido falar da guerra civil, mas não sabia em que pé estava, fazia muito tempo que ele não pisava nas regiões celestes.
- Hum, é realmente... fascinante. Se não conhecesse você, diria que sua vida aqui neste planeta condenou sua mente. - Natanael disse frio.
Daniel se ajeitou na moto e apoiou a lata no chão e olhou firmemente para o irmão. Ele estava sério novamente e o ar ficou pesado.
- Irmão, sei que você quer sua vingança e dou a você toda razão por buscá-la, mas agora estou ocupado. Se quer mesmo me matar terá que me enfrentar, entretanto devo avisá-lo que lutarei com tudo o que tenho. Pela primeira vez em milênios tenho uma missão a cumprir e não posso falhar... Não novamente.
Natanael se levantou, olhou dentro dos olhos do irmão, sabia que ele falava a verdade, sabia que ele havia mudado. Ele amassou a lata e a atirou na direção de um caminhão estacionado. Natanael não era fã da espécie humana, não nutria qualquer amor por ela, mas era um bom soldado, seguia ordens do Pai e por isso protegeria os pequenos bonecos de barro, protegeria eles não por amor, mas por honra.
- Se eu o quisesse morto, você estaria. Não gosto desses pequenos macacos que o Pai criou, mas quem sou eu para discutir com as ordens dele? Eu vou te ajudar até que complete esta missão, mas depois... Você e eu teremos um duelo e acredite em mim, vou arrancar sua cabeça e pendurá-la em uma estaca.
- Faça como quiser.
- Precisamos arrumar um lugar para descansar, pelo menos por essa noite, depois prosseguimos com a sua cruzada.
- Eu não tenho dinheiro suficiente para uma hospedagem pra nós dois. - Daniel disse.
- E quem mencionou dinheiro? - Natanael sorriu
Natanael montou em sua moto e saiu em direção à estrada, queimando os pneus. Daniel não ficou para trás, rapidamente entendeu o que o irmão quis dizer, não concordava em manipular a mente de humanos, mas àquela altura, aquilo era uma necessidade.
Dirigiram por mais duas horas até que a exaustão tomou conta de ambos. Para sorte de ambos, Daniel avistou um hotel de beira de estrada mais à frente. Eles manipularam a mente do proprietário, um senhor por volta de seus 70 anos e alugaram dois quartos. Quando finalmente deitaram em suas camas, rapidamente apagaram, cada qual tendo como último pensamento sua missão. Um deles tentava salvar a raça humana, o outro só procurava sua vingança.
Acordaram ambos com o cheiro de fumaça, os quartos pareciam estar pegando fogo. Abriram as portas e olharam-se. Eles podiam sentir que no fundo daquela fumaça queimava enxofre.
- Demônios. - Eles disseram ao mesmo tempo.
Desembainharam suas espadas e correram em direção à recepção. O senhor da recepção jazia morto no chão, uma poça de sangue ao seu redor. Seu coração havia sido arrancado. Do lado de fora brotava uma risada gutural, demoníaca que fez os dois anjos apertarem a mão ao redor do cabo da espada.
Eles correram para o lado de fora  e viram um homem por volta de seus 50 anos, vestindo um terno rasgado, de suas costas brotavam duas asas queimadas havia milênios e seus rosto também estava dilacerado pelas chamas.
- Asmodeus. - Daniel disse
- O príncipe do inferno? Está lutando contra esse também irmãozinho? Devo dizer que realmente você sabe arrumar uma boa briga.
- Ora ora se não é Natanael, o anjo empalado por seu próprio irmão... - Asmodeus zombou - ... Mas quem te empalou não é esse aí do seu lado? Quer dizer que além de fraco é covarde? Do que vocês anjos são feitos? Da merda dos seres humanos? - Asmodeus gritava e zombava dos anjos.
Natanael não se movia, não dava um passo, sua respiração estava controlada. Daniel sabia que o irmão estava se preparando para o ataque. Os olhos de Natanael começaram a brilhar fortemente, uma forte luz emanou deles, todo o corpo dele parecia tremer e das suas costas suas asas se materializaram, rasgavam o pano da camisa, a carne humana do invólucro e logo elas estava abertas, ameaçadoras. Daniel ainda estava controlado, suas asas ainda não haviam se materializado, tinha algo de muito estranho naquilo, por que Asmodeus os atacaria tão visivelmente? Não era seu estilo.
Natanael partiu para o ataque, a sede de sangue em seus os olhos, a fúria devastadora do querubim.
Quando o anjo se aproximou o suficiente Asmodeus sacou sua espada, cujo aço era negro como a noite, era como se todas as sombras e temores estivessem compactados naquela lâmina.
Ele fez um arco de movimento que atingiu Natanael na face, causando um rasgo profundo. O anjo caiu de lado, o sangue escorria enquanto ele urrava de dor.
- Soube que vocês mataram meu sócio ontem à noite, uma péssima ação devo dizer. Urano era um ótimo aliado, terei qeu matar ambos por seu mau comportamento. Essa - disse ele apontando para a espada - é a lâmina das trevas, capaz de matar anjos e elementais.  - Asmodeus sorriu.
Foi a vez de Daniel partir em direção ao ataque, uma luta feroz de espadas se seguiu. Daniel era rápido, mas Asmodeus conseguia evitar seus golpes e investir na guarda do renegado. A luta durou por mais alguns minutos até que Daniel finalmente conseguiu uma brecha e cravou a espada no peito do demônio. Imadiatamente, como que por mágica Asmodeus se desfez em uma nuvem de poeira.
Uma risada então ecoou ao fundo. A imagem de Asmodeus ressurgiu nas chamas, seu rosto era moldado pela fumaça que emanava do hotel.
Foi então que veio uma grande explosão que lançou Daniel diretamente na estrada, deixando-o quase desacordado. A fumaça subia aos céus e ele já não ouvia mais a voz de Asmodeus nem conseguia sentir sua presença. Ele finalmente entendeu o que Asmodeus queria ali... Atrasar sua chegada à Brasília. Era Bruna quem estava em perigo.














Continua...................................................