sábado, 16 de junho de 2012

Cap.20 - Afterlife

O crepitar das chamas, os risos maquiavélicos de um demônio no meio das chamas, um anjo deixando este mundo numa explosão de luz, dor, lágrimas, suor... Tudo parecia tomar forma na cabeça de Bruna dando a ela o pior dos pesadelos e a mais dolorosa das lembranças: A morte de sua família. Sua mãe, seu pai e sua irmã... nada mais restava.
Ela acordou, lutava para segurar as lágrimas, lutava para conter a dor que tentava dominar ela toda vez que lembrava das chamas. Ela queria acabar logo com aquilo, não havia por quem lutar, ninguém que fosse tão importante para ela como sua família era. E agora eles se foram... Ela daria sua vida como sacrifício de bom grado.
Levantou da cama e caminhou até a janela do quarto, ela podia ouvir o ronco de Odin vindo do outro quarto. Encarou a escuridão do lado de fora, a lua reinava absoluta no céu, tão cheia, tão brilhante, tão linda.
A porta do quarto abriu lentamente, Bruna virou-se rápido e quase não conseguia acreditar no que estava vendo. Na porta, parada de pé diante dela, estava uma garota com seus prováveis 18 anos, cabelos negros e longos que desciam até suas costas. A garota usava calças jeans escuras, uma bota e uma camiseta branca muito surrada e com manchas vermelhas que se pareciam e muito com sangue. Mas Bruna conhecia aquela garota, conhecia ela tão bem que nao foi capaz de se mover, chorava como nunca antes em sua vida, não sabia o que sentir... Aquela era Natalie, sua irmã.
- Natalie? - Bruna tentava formas as palavras, mas sua mente estava inundada de perguntas e sentimentos.
Natalie caminhou até ela, estendeu sua mão para ajudar a irmã a se levantar. Não disse nenhuma palavra. Bruna pegou na mão da irmã e quase não acreditou... era real, mas como? Bruna sentou na cama com a ajuda de Natalie, as duas estavam frente a frente agora após tantos anos.
- Natalie, é você? - Bruna tentava organizar a mente.
Natalie apenas acenou com a cabeça e fez um sinal para que a irmã se calasse, ela parecia tensa, parecia nervosa, estava apavorada.
- Eu tenho pouco tempo, Bruna. - a voz da garota era musical, como a da irmã - Eu sei que você tem muitas perguntas, acredite eu também tenho, mas não podemos falar agora sobre isso. Eu sobrevivi ao incêndio de uma forma que até hoje eu tento entender. Uma mulher chamada Lilith ouviu batimentos cardíacos quase inaudíveis em meu coração, ela me deu seu sangue e então uma grande onda de choque passou por mim. Dor, lágrimas, força, sede, muita sede inundou o meu corpo. Ela me levou dali, me alimentou e cuidou de mim e me dava tudo o que eu mais queria... Seu sangue.
- Natalie, Lilith... Lilith é um demônio, ela tentou me matar!
- Eu sei, mas o sangue dela, o poder que ele proporciona, você ficaria maravilhada e tão viciada nisso quanto eu fiquei. Era impossível se afastar. Mas então coisas começaram a acontecer, dores, convulsões, ódio, raiva, a sede pelo sangue humano, pela guerra... Era como se ela própria estivesse controlando minhas emoções. Eu me tornei escrava de Lilith, eu abracei as trevas e encontrei conforto nelas. Eu já não tinha mais ninguém, até onde eu sabia você tinha morrido.
Natalie se jogou nos braços da irmã, Bruna a abraçou tão forte que sentia seus braços tremerem com a tensão. Ela podia sentir Natalie chorando, as lágrimas molhavam o braço de Bruna. Natalie soluçava, tremia, parecia que ia desmontar.
- Eu não conseguia parar Bruna! As coisas que ela me levou a fazer, o sangue... Me desculpa! - Natalie quase gritava.
- Está tudo bem Natalie, vai ficar tudo bem, eu to aqui. - Bruna tentava acalmar a irmã.
- Não Bruna! Não vai! Ela está vindo pra buscar você, você precisa ir embora!
- Quem está vindo me buscar? - Bruna começou a ficar tensa.
- Lilith, ela está trazendo Astaroth... Você precisa sair...
- O que você está fazendo aqui, Natalie? - Bruna se afastou da irmã.
Natalie levantou e encarou Bruna, seus olhos estavam diferentes agora, estavam vermelhos como o sangue. Bruna sentia que quem estava ali já não era mais sua irmã, não mais. O sangue de Lilith corrompeu Natalie, a levou a lugares onde nenhum humano deveria ir, deixou a irmã na beira de um abismo do qual não havia retorno.
Natalie sorriu, uma mistura de dor e fúria bailavam nos lábios dela. Bruna sabia que a irmã estava em algum lugar ali dentro só não sabia se seria capaz de tirar ela de lá. Natalie tirou uma faca que estava presa na bota, era uma pequena adaga que tinha um dragão entalhado no cabo de prata. A lâmina brilhava como a lua daquela noite. Bruna recuou.
- O que você vai fazer Natalie? Larga essa faca. - Bruna recuou, um grito surdo preso na garganta. Ela não podia usar suas chamas, não ali, não contra sua irmã.
- Desculpe irmãzinha... Eu preciso do seu sangue... Minha mestra precisa do seu sangue. - A voz outrora angelical agora tornara-se demoníaca.
- Você não precisa fazer isso, Natalie. Você pode ficar livre dela, deixa eu te ajudar.
- Eu não preciso da sua ajuda! Se estou onde estou é por culpa sua! Você me abandonou nas chamas, me deixou para morrer. Lilith me salvou! Lilith esteve ali comigo quando você me abandonou.
- Natalie, não é verdade, eu não sabia... - As palavras novamente fugiam da sua boca diante das acusações da irmã. Será que ela estava certa?
- Seu sangue será meu esta noite!
Natalie partiu para o ataque, Bruna estava sem reação, não havia como desviar da irmã sem machucá-la, não podia usar sua magia, não queria usar. Então quando a adaga estava perto de ser estocada em seu peito algo improvavél aconteceu.
Um raio cortou a escuridão do quarto e atingiu Natalie bem no meio das costas lançando a garota na parede. O corpo caiu no chão com a fumaça subindo do lugar. Tudo aconteceu tão rápido que Bruna mal teve tempo para reagir. Quando levantou a cabeça conseguiu ver Odin na porta do quarto.
- O que está acontecendo aqui? - Odin elevou a voz.
- Natalie, minha irmã. - Bruna apontou para o corpo inerte no chão.
- Impossível! - Odin se virou para o corpo - Natalie morreu no incêndio.
- Eu estou começando a achar que é muito pior do que isso.
Natalie novamente começou a se mover, mas dessa vez ela estava com mais raiva. Sombras emanava do lugar onde ela estava, seus olhos agora brilhavam com um vermelho vivo, seu rosto estava transtornado... Então era aquilo o que o sangue de um demônio podia fazer com um humano.
- Natalie, chega! - Bruna tentava gritar inutilmente para a irmã.
Natalie novamente avançou e as sombras dominaram o quarto, tudo ficou escuro como a mais densa noite. O medo pairava no ar e subitamente a porta do quarto bateu com uma violência impressionante.
Então uma explosão se ouviu, a janela do quarto foi estilhaçada faznedo chover vidro na calçada do lado de fora. Finalmente alguma luz entrou, a lua agora iluminava o quarto. Na ponta da janela estava Natalie, sorrindo como um animal ao encarar sua presa. Ela virou as costas e pulou da janela se lançando nas trevas da noite.
Bruna correu na direção da janela e procurou a irmã do lado de fora, mas era inútil. Natalie havia sumido.
- Mas que merda foi essa? - Odin tentava manter a calma
- Natalie é o menor de nossos problemas agora. - Bruna olhou para baixo e pôde ver uma mulher de longos cabelos negros entrando no hotel, ela usava um espartilho negro que a deixava no estilo femme fatale, ao seu lado estava um jovem, vestindo um terno armani de caimento perfeito, os cabelos curtos penteados para trás e um olhar ameaçador nos olhos.
- Lilith e Astaroth estão vindo.

















Continua....................................................................

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