segunda-feira, 18 de junho de 2012

Cap. 21 - Assassin

- Filho da puta! - Daniel gritou no meio da estrada vazia a quem pudesse ouvi-lo, mas ele sabia que estava tão no meio do "nada" que provavelmente seus xingamentos só seriam ouvidos pelos pássaros e por Natanael.
Natanael estava centado perto das cinzas de onde, algumas horas atrás, era o hotel de beira de estrada. Provavelmente o corpo do idoso responsável pelo hotel jazia ali, largado, abandonado e queimado. Era estranho para o anjo reconhecer a imortalidade da carne humana e a imortalidade de seu espírito, a essência de Deus em cada humano, aquilo que ainda os ligava aos reinos celestiais, era tão simples, mas ao mesmo tempo complexo demais. Nem mesmo ele, um dos anjos mais antigos do céu, sabia o que acontecia exatamente com as almas humanas.
- Mas que merda! De todas as coisas que ele poderia fazer... Ele TINHA que destruir a minha moto? Eu comprei aquela moto com o próprio Harley! Você sabe o que isso significa? Que eu vou arrancar o coração de Asmodeus com minhas próprias mãos. - Daniel ainda bufava de raiva.
- Precisamos sair daqui, pelo que você me disse sua amiga está em perigo. - Natanael dizia calmamente.
- Eu sei disso, irmão. - Daniel se acalmou - Mas no momento não vejo saídas para a posição em que estamos, precisaríamos de um milagre para sair daqui.
- Poderíamos nos desmaterializar ou expor nossas asas.
- Eu fui proibido de me desmaterializar, lembra? E ainda que eu exponha minhas asas não terei energia suficiente para chegar até Brasília. Precisamos de um veículo, um bem rápido.
- Acho muito difícil encontrarmos nessa estrada. Deveríamos começar a caminhar, pelo menos estaríamos nos movendo.
Daniel ponderou as palavras do irmão, ele estava certo. Precisavam ao menos começar a se mover, talvez o milagre realmente acontecesse, Brasília não estava tão longe afinal, eles já estavam em Goiás. Mas ainda havia uma coisa que Daniel precisava fazer antes de partir, um dever que ele mesmo se imputara.
Ele caminhou até os destroços e começou a levantar algumas vigas, sua força acima da média humana e sua agilidade facilitaram o trabalho. Natanael o observava, mas não ousava perguntar o motivo daquilo.
Daniel continuou remexendo nos destroços até que aparentemente achou algo. Pegou uma  viga caída e usou como apoio para levantar os destroços restantes. Natanael se aproximou e finalmente entendeu o que o irmão estava fazendo. Daniel se abaixou e pegou o corpo inerte do homem que os atendera na noite anterior. Ele o levantou nos seus braços e o removeu dos destroços, caminhou para longe das cinzas do lugar, sua roupa estava chamuscada, mas Daniel não se importava. Ele aprendeu a respeitar os humanos, mesmo na morte há muito tempo.
Ele começou a cavar um pequena cova no chão, o suficiente para abrigar o corpo e impedir que alguma chuva expusesse o mesmo. Colocou o corpo lá dentro e orou baixinho, entregando o espírito daquele pobre homem à Deus, onde quer que ele estivesse.
- Por que fez isso? - Natanae perguntou.
- Respeito aos mortos, meu irmão.
- E por que isso é necessário?
- Uma vez, eu estava em um antigo campo de concentração judeu. Minha tropa havia acabado de dominar os nazistas e enquanto eles eram fuzilados pelo meu pelotão, alguns homens estavam abrindo as celas dos prisioneiros. Homens em um estado que você provavelmente não encontraria nem nas masmorras do inferno. Foi então que eu vi, uma criança saiu correndo para longe de sua mãe quando viu o corpo de seu pai jogado em um canto. Ela começou a pegar um pouco de neve e jogar por cima do corpo, tentando enterrá-lo. Um ato de respeito e amor, isso realmente me fez entender muito sobre a natureza do ser humano. Talvez eles não sejam todos amorosos, muito pelo contrário, alguns tem um potencial enorme para a destruição, mas ainda há amor neste mundo.
- Daniel, você mal conhecia este homem, como pode ter amor pela vida dele?
- Eu não o conhecia, mas ele foi pai de alguém, filho de alguém, irmão de alguém... Ele teve família, sua passagem neste mundo não foi em vão.
Daniel se calou. Natanael ainda não entendia o porquê daquilo, mas sabia que era importante para seu irmão, ajudou ele a colocar a terra sobre a cova e então começaram a caminhar pela estrada.
O calor estava insuportável, eles já caminhavam há mais de uma hora e nada de achar nenhum carro. Não queriam admitir mas estavam começando a achar que caminhariam para sempre. Então começaram a ouvir uma sirene vindo na direção deles, primeiro baixa e depois o som foi aumentando. Era uma picape Hilux pertencente à polícia federal, eles dirigiam rápido na direção dos dois anjos, não aparentavam que parariam ao chegar perto deles.
Então quando estavam quase em cima dos dois celestiais a picape deu giro abrindo a porta lateral para eles. Dentro, uma mulher ruiva, não aparentava mais do que 30 anos, vestia uma camisa social azul claro e uma calça jeans comum, usava botas de caminhada... Ela era linda.
- Quem é você? - Natanael perguntou
- Quem é você, perguntou eu! - A mulher respondeu.
Depois de alguns segundos observando a mulher, Daniel finalmente a reconheceu... Aquela era Sarah, a mestra de Bruna, mas o que ela estava fazendo ali? Era para ter chegado à Brasília há pelo menos 1 dia.
- O que houve, Sarah? - Daniel perguntou deixando a mulher suspresa pelo reconhecimento.
- Você a conhece? - Natanael perguntou
- É a mestra da garota que te falei.
- Ah sim. - Natanael estendeu a mão - Eu sou Natanael, algoz do meu irmãozinho aqui.
- Já ouvi falar de você Natanael, o querubim do Éden. - Sarah disse
- Fico lisongeado.
- Entrem precisamos sair daqui o mais rápido possível, a polícia já chegou no lugar da explosão do hotel e logo estarão aqui!
- Por que você não está em Brasília? - Daniel perguntou ao entrar no carro.
Sarah acelerou o mais rápido que pôde, fazendo os pneus cantarem e até memso Natanael segurou no braço da porta.
- Meu avião foi retido no Rio de Janeiro, algo sobre mau tempo... Mas precisava chegar o mais rápido possível em Brasília.
- O que está acontecendo, Sarah? O que não está me contando?
- Daniel... Astaroth e Leviatã estão em Brasília, você sabe o que isso significa? - Sarah parecia preocupada.
- Significa que ela está com um problema dos grandes... - Natanael disse do banco de trás.
- Os príncipes do inferno são o menor dos problemas. - Daniel disse
- E por que? - Sarah perguntou
- Porque, geralmente, o chefe deles sempre aparece depois. Temos que tirar Bruna de lá agora! Ela não será capaz de enfrentar Lúcifer sozinha. - Daniel disse
- Nem nós somos capazes de lidar com ele, irmãozinho.
- Temos que chamar reforços. - Sarah disse
- Mas quem? - Daniel perguntou
- Eu conheço um arcanjo que pode nos ajudar, e também temos os elementais. - Sarah disse
- Vamos nos preocupar em tirar Bruna e Odin de lá. - Daniel continuou - Mas me diga, por que está com o carro da polícia federal?
- Bom... Vamos dizer que eu compeli alguém a me emprestar. - Sarah percebeu o olhar de reprovação de Daniel - O que foi? Era o carro mais rápido que tinha ali!
- Corre, estamos sem tempo.
















Continua......................................................

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