terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Cap.16 - Satellite

Bruna partiu com Odin em direção à Brasília, Daniel disse que os encontraria mais tarde, tinha assuntos a resolver e não revelou mais detalhes. Então os dois pegaram um avião em direção à capital do país, ao chegarem receberam uma mensagem de Sarah, ela estava a caminho mas ainda demoraria por volta de 3 dias para chegar, estava muito longe dali e também precisava terminar seus assuntos.
Odin levou as malas para um hotel enquanto Bruna resolvia explorar a cidade, procurar mitos, lendas qualquer coisa que se referisse ao antigo El Dourado. Procurava em vão por uma biblioteca, estavam todas fechadas àquela hora, afinal já eram oito horas da noite. Entrou em um pequeno restaurante de esquina que a atraía pelo cheiro de um delicioso rodízio de pizzas.
Ligou para Odin e pediu para que ele a encontrasse no lugar, enquanto isso ia se deliciando com as pizzas. Enquanto começava a comer uma visão a perturbou, duas mesas de distância dela estava sentado um jovem, um pouco mais de 25 anos, vestia um terno Armani com um caimento perfeito, muito provavelmente um secretário ou acessor de algum executivo, ao seu lado um homem com mais idade, vestia um uniforme de gala da marinha e ao seu lado, a imagem que a aterrorizou, que a fez tremer, um homem que ela julgava estar morto há anos... um homem por volta de seus 50 anos, vestindo um terno de giz, cabelos negros despenteados... aquele era Asmodeus.
Ela começou a tremer ao perceber que ele a encarava, chamou um garçom e pediu para ele entregar uma mensagem para a garota. O garçom estranhou a mensagem, mas não questionou o homem a quem servia. Aproximou-se de Bruna e disse:
- O cavalheiro daquela mesa me pediu para lhe entregar uma mensagem, senhorita.
- Qual? - Ela tentava disfarçar o nervosismo.
- Bu.
Bruna olhou novamente para Asmodeus, ele estava sorrindo e olhando diretamente para ela, esperava sua reação. Ela tentou se recompor o máximo que pôde, levantou e caminhou em direção ao seu velho conhecido, ela estava desarmada, tinha apenas sua mágica, mas não podia arriscar a vida das outras pessoas ali, não sabia quem eram os homens com Asmodeus, humanos ou demônios?
Ao se aproximar, Asmodeus se levantou e puxou uma cadeira para que Bruna sentasse, ela sentou-se e começaram a falar... na verdade tudo o que ela conseguia dizer era " como?"
- Minha cara, o brutamontes que me acertou apenas me baniu deste plano, me enviou de volta ao inferno, onde tive tempo para me recuperar, pensar e cá entre nós, para aumentar o ódio que sinto por todos vocês macacos de estimação de Deus.
- Você sabe quem é aquele brutamontes? - Bruna arriscou.
- Suponho que seja Odin, a força do trovão, o elemental, estou correto minha dama? - O jovem na mesa falou, muito educado, mas ainda assim desdenhava um sorriso.
Bruna ficou sem palavras, eles sabiam quem ele era, mas já esperava por isso, elementais e demônios duelaram pelo controle da Terra há milênios. Ela observou os outros dois ocupantes da mesa, eles tinham a mesma sinistralidade no olhar que Asmodeus.
- Perdoe meu irmão, não foi nem um pouco educado ao não nos apresentar. - O jovem continuou falando e olhou para Asmodeus.
- Ora meu caro irmão, tenho meus motivos, essa garota lançou uma onda de chamas sobre mim, aquilo doeu. E só não a mato agora porque sei que vocês tem outros planos.
- Planos? Que planos? - Bruna estava ficando horrorizada.
- Nada com o que deva se preocupar agora, mortal. - O mais velho falou, o uniforme da marinha dava um tom mais solene à sua voz.
- Eu sou Astaroth - O jovem disse - e esse é Leviatã, concerteza já ouviu falar de nós em alguma cultura.
- Deuses pagãos. - Bruna murmurou, havia lido sobre eles durante seus estudos, eles usavam a magia negra, além de serem considerados por alguns como demônios e na cultura cristã, considerados príncipes infernais. Astaroth era reconhecido por sua vaidade e sempre retratado como um jovem orgulhoso e arrogante enquanto Leviatã tinha um ar ancestral, retratado como uma serpente das águas.
- Irônico não? Humanos nos adorarem por destruirmos seu planeta e sua espécie, acho vocês muito idiotas pra falar a verdade, entendo o porquê da revolta de Lúcifer. - Leviatã disse.
Bruna estava parada diante deles, calada, aterrorizada, três dos quatro príncipes infernais estavam diante dela, os seres mais poderosos na hierarquia infernal, obedecendo apenas a Lúcifer e a mais ninguém. Ela sentia as trevas emanarem dela, o medo, o terror, sentia-se sufocada e por um breve momento achou que fosse desmaiar, mas manteve-se firme.
- Está passando mal, minha cara? - Astaroth perguntou sarcástico.
- Ela está pálida. - Leviatã completou.
Asmodeus se limitou a rir, divertia-se com os irmãos, trava guerras com eles, mas eram irmãos afinal de contas. Filhos de Lúcifer com mulheres humanas, levados ao inferno, onde cresceram e se tornaram príncipes das trevas.
Bruna sentiu uma mão pesar sobre seu ombro, uma mão conhecida, ela chegou a se assustar, mas logo reconheceu Odin. Ele estava vestido como um caminhoneiro, usava um boné, mas ainda assim mantinha seu ar de dureza.
- Algum problema aqui, senhores? - Ele perguntou, levando a mão ao martelo que ainda pendia na cintura.
- Nenhum, velho amigo. Estávamos apenas conversando trivialidades. - Leviatã o olhou.
- Vocês... se conhecem? - Bruna perguntou.
- Lutamos uma ou duas vezes. - Leviatã admitiu.
- Vamos embora Bruna, temos coisas melhores a fazer. - Odin puxou a cadeira para que ela se levantasse.
Bruna se levantou, as pernas tremendo um pouco, caminhou apoiada em Odin, passos rápidos em direção à saída, precisava sair daquele lugar o mais rápido possível. Então Astaroth gritou da mesa:
- Não se preocupe querida, nós nos encontraremos em breve.



















Continua.........................................................................................

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Cap.15 - Bottoms Up

Bruna olhava para Daniel e Odin, ela não entendia o que Daniel queria dizer, havia ainda algo que não tivesse sido esclarecido? O que mais poderia haver nessa história que Bruna já não soubesse?
Ela passou os últimos 3 anos treinando com Sarah, aprendendo os fundamentos mágicos, aprendendo a canalizar o fluxo de energia que fluía livremente dentro dela, aprendendo a usar a energia extracórporea, a energia da terra, a energia dos anjos. E agora depois de tanto tempo treinando, estudando, ela e Sarah tomaram rumos diferentes, tinham propósitos diferentes, mas se encontrariam no futuro.
- O que eu ainda preciso saber, renegado? - Bruna perguntou.
- Já está na hora de ela saber? - Daniel perguntou para Odin.
- Eu estou aqui! Não me ignore! - Ela bateu na mesa com força e todo o lugar pareceu tremer, ela ainda não era capaz de controlar sua raiva, não totalmente.
Daniel olhou para a face avermelhada da garota, estava avermelhada pela raiva. Ele sabia que se essa garota não aprendesse a se dominar mataria todos a volta dela. Por isso ele estava ali, naquele momento ela poderia ser mais forte do que ele, mas ele ainda tinha milhões de anos de experiência que poderiam derrotá-la.
- Garota, você sabe que uma grande batalha está por vir. Você sabe muito bem que sua presença é importantíssima, entretanto...
- Diga!
- Entretanto o primeiro passo não tem nada a ver com a batalha em si. Lúcifer está movendo seus anjos de encontro à terra. O inferno é como um corpo humano deitado de costas para o centro da terra, esse corpo é cortado por passagens que ligam os três grandes reinos: terra, céu e inferno. No início dos tempos onde acabava o paraíso começava o inferno, dois reinos lado a lado, mas com a criação da terra a ordem foi mudada, mas as passagens foram mantidas. - Daniel disse.
- Ao longo dos milhares de anos, as passagens foram desaparecendo, restringindo-se a pontos específicos, acessíveis apenas a almas humanas e raramente ao fluxo de celestiais e infernais. - Odin continuou.
- Mas restaram 2 passagens abertas entre os 3 reinos, acessíveis a quealquer tipo de seres. Uma é a cidade sagrada de Jerusalém e a outra, uma cidade perdida no meio da Amazônia, a antiga El Dorado. Lúcifer está buscando essa passagem para mover seus exércitos, mas ele ainda não a achou. - Daniel completou.
- O que nós devemos fazer é fechar essa passagem, impedir que Lúcifer consiga alcançá-la e do mesmo modo, impedir que Gabriel e Miguel tragam sua guerra para a Terra. Mas a passagem só pode ser fechada com um preço, um preço de sangue. Um ritual mágico, ancestral, ensinado à primeira elemental: Gaia. Esse ritual foi feito com o sangue dela e só pode ser quebrado da mesma maneira. Por isso você é importante, somente seu sangue pode fechar o portal.
- Querem dizer que para que a batalha permaneça igual entre os três lados, é necesário que eu morra? - Bruna perguntou.
- Sim. - Odin afirmou.
Bruna se levantou da mesa, caminhou até a janela e encarou a escuridão lá fora por alguns instantes, instantes que pareceram uma eternidade. Ela se preparara tanto, lutara tanto para ter que morrer ali? À beira da batalha? Era difícil de aceitar, sua alma lutava pela vida, não poderia aceitar a morte.
- Tem que haver outro jeito. - Ela disse.
- Não conheço nenhuma bruxa capaz de fazer o ritual sem o sangue de uma híbrida. Pelo menos não uma poderosa o suficiente. - Daniel disse.
- Eu conheço uma. - Bruna olhou para os dois sentados na mesa. - Minha antiga mestra.
- Posso chamar Sarah até aqui. - Odin disse.
- Não há tempo, ela terá de nos encontrar no caminho. - Daniel falou. - Não podemos perder nem mais um segundo.
- O que sugere? - Bruna perguntou.
- Mande ela nos encontrar em Brasília. Nós vamos até lá de avião, quando descermos, nos reuniremos e seguiremos para a Amazônia. - Daniel disse.
- Faz idéia de onde possa ficar esse portal? - Odin perguntou.
- Tenho uma vaga noção.
As lembranças vieram à mente de Daniel novamente, um turbilhão de eras passadas, batalhas antigas, tempos em que ele caminhava pelo mundo como o anjo da morte. Tempos que ele queria esquecer.















Continua................................................................

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Cap.14 - No More Sorrow

Quando Daniel acordou estava deitado sobre uma cama, sua cama. A caixa torácica doía, pareciam que havia sido acertado por um trem em alta velocidade. O quarto estava escuro, tateou a cama procurando por quaquer coisa que pudesse fazer de arma, mas era inútil. Pelo menos havia uma boa notícia, não estava morto, pelo menos não ainda.
Ele levantou da cama com dificuldade, mas já não estava tão fraco quanto antes. Caminhou em direção a porta do quarto, mas antes tateou um pouco pelo quarto. Não queria acender a luz para procurar, mas ele tinha certeza de que possuía uma colt guardada em algum lugar por ali. Finalmente a achou, mas ela estava sem balas, provavelmente elas estavam por ali, em algum lugar, dentro de alguma caixa. As vezes Daniel sentia raiva por ser tão desorganizado, só as vezes, na maior parte do tempo ele se virava bem com aquilo.
Ele se cansou de procurar e caminhou até a sala, a arma em punho, apesar de descarregada, ainda poderia dar uma boa coronhada. Ele reconheceu uma das vozes no lugar, ele se sentiu mais tranquilo e caminhou até a sala com mais rapidez.
- Quero saber quem foi o filha da puta que me acertou com um martelo. - Daniel disse ao chegar na sala, estava se escorando no batente do corredor, ele ainda estava dolorido e naquele momento sentia dificuldades pra respirar.
- Você mereceu, matou meu filho. - Odin disse.
- Eu o matei porque ele estava tentando me matar, nada mais justo que eu revidasse, você não acha? - Daniel deu um sorrisinho irônico.
Então Odin gargalhou, Daniel e Odin tinham uma amizade diferente, ou estavam incrivelmente bem um com o outro ou queriam se matar e geralmente isso levava apenas instantes pra mudar, qualquer que fosse o caso.
Daniel caminhou até a mesa e sentou-se. Estava cansado e a dor parecia estar maior que nunca, concerteza, ele havia quebrado algo.
- Deveria estar deitado, renegado. - A terceira pessoa no recinto disse.
Ao dirigir os olhos para a terceira pessoa Daniel percebeu que não a conhecia. Era jovem, deveria ter um pouco mais de 20 anos, tinha cabelos curtos, na altura do pescoço, eles eram castanhos, da cor da terra e Daniel sentia emanar dela uma grande energia, uma energia ancestral, talvez tão ancestral quanto a dele próprio.
De certa forma aquela garota era linda, mas naquele preciso momento Daniel sentia mais dor do que provavelmente uma atração por ela.
- E você é...? - Daniel perguntou
- Meu nome é Bruna. - A garota respondeu.
- Você deve ser a garota que eu supostamente deveria proteger, caso Odin não me mate antes, é isso?
- Acho que é mais provável que eu tenha que proteger você, renegado. - A garota não gostava de brincar.
Daniel olhou dentro dos olhos dela, conseguiu ver além do que estava claro, ele podia enxergar uma dor profunda, uma dor que a consumia por dentro e um desejo de vingança que nada poderia parar.
- Garota você acha que conhece a dor por perder sua família? Acha que isso faz de você diferente de todos os outros 7 bilhões de habitantes deste planeta? A única diferença entre você e eles, é que você tem a chance de fazer algo a respeito.
Odin olhou para os dois, sabia que em breve deveria ter que apartar uma briga. Ele colocou a mão na cintura, sobre o cabo do martelo que carregava.
Os olhos de Bruna assumiram uma tonalidade diferente, o chão do apartamento pareceu tremer. Os olhos da garota mudaram para uma tonalidade avermelhada, o chão passou a tremer mais forte, mas nem por isso Daniel deixou de a encarar, nem mesmo por um segundo.
- O que foi? Vai me lançar pra fora do prédio? - Daniel a provocou - Aprenda a controlar sua raiva garota ou ela vai dominar você no momento em que isso não poderá ocorrer.
- Eu realmente acho que você deveria parar de provocar, Daniel. Eu já vi do que essa garota é capaz e sinceramente não desejo isso pra você esta noite. - Odin disse.
Daniel se levantou, ignorando todos os avisos, foi até a cozinha, abriu a geladeira e encheu um copo de coca. Bebeu o primeiro copo com uma rapidez incrível, encheu ele de novo e caminhou para o sofá, onde ele se deixou acomodar.
Então quando ia virar novamente o copo para poder beber o copo estourou em sua mão. A coca-cola derramou sobre o sofá. Ele olhou para Bruna, ela estava rindo agora, seus olhos estavam normais, na verdade ela se divertia com a situação. Até mesmo Odin se permitiu rir.
Ambos se levantaram e caminharam em direção um ao outro. Daniel estendeu a mão para Bruna, um sinal de paz. Bruna aceitou o convite e ambos apertaram as mãos.
- Que bom, não queria ter que bater em vocês. - Odin disse.
Todos se sentaram novamente na mesa, dessa vez mais calmos. Daniel olhou para o apoio da porta, lá estava a espada de Susanoo.
- Se importa se eu ficar com ela?
- É seu troféu de batalha, você a merece. - Odin disse.
- Obrigado.
Daniel sabia o que significava Odin estar ali com a garota, sabia que o momento era chegado. A grande batalha estava por vir e os três lados começaram a assumir suas posições. Mas havia algo para ser feito antes disso, algo que poderia mudar o destino da batalha e que somente a garota poderia fazer e era justamente pra isso que Daniel estava ali, para proteger ela e garantir que o precisava ser feito fosse feito.
- Quando? - Daniel perguntou.
- Em três meses. - Odin disse.
Nesse momento Bruna estranhou a situação, sabia que algo estava sendo escondido. Aquilo a deixou nervosa, o que ela não poderia saber?
- Do que estão falando? - Ela perguntou aflita.
- Está na hora de você saber toda a verdade, garota. - Daniel disse.














Continua........................................

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Cap.13 - Forever Young

Daniel não era exatamente um humano, apesar de estar sem sua graça, apesar de seu invólucro mortal, ele ainda possuía a força de um anjo, ainda era capaz de se regenerar, mais lentamente do que os anjos, mas muito mais rápido do que os mortais. Entretanto era sujeito à morte como qualquer humano, ele não tinha uma definição própria, aqueles que sabiam da sua existência o chamavam de renegado. Renegado por anjos e homens, caminhando pelo planeta com um propósito que ninguém além dele conhecia.
Há alguns anos ele descobriu a existência de um grupo de seres ocultados por Deus e até mesmo pelo Diabo: os Elementais. Seres ancestrais, guardiães da Terra e de seu povo, responsáveis por civilizações, por deuses e heróis, fatos que mesmo com mais de 100 mil anos de vida, Daniel nunca imaginou ser possível.
Mas a história do renegado não era diferente da dos elementais, muito pelo contrário. Quando Deus criou o Jardim do Éden colocou como guardiães de suas portas dois querubins, anjos guerreiros, anjos de guarda. O nome de um desses anjos era Natanael e o outro era Daniel.
No começo haviam dois humanos no jardim, Adão e Lilith, a primeira mulher. Mas Lilith não era uma mulher comum, longos cabelos negros caíam em suas costas, ela era muito diferente do que Deus planejara para ser a mulher de Adão. Lilith recusava-se a aceitar Adão como seu esposo, então um dia, tentando fugir de seu marido, perdeu-se e foi parar no portão do jardim onde Natanael e Daniel guardavam a entrada.
Foi então que um pensamento passou pela cabeça de Lilith, somente poderia fugir de Adão se tivesse quem a socorresse. Ao olhar para os querubins, teve certeza de que ali estava sua chance. Ela se insinuou para ambos, seu corpo estava nu, ela chamava a atenção dos querubins que mesmo sendo anjos, estavam presos aos sentimentos carnais também.
A paixão tomou conta de Daniel, ele largou seu posto e decidiu entrar no jardim, decidido a possuir Lilith para si, como mulher. Ignorou os avisos de Natanael, empurrou o irmão para o lado, nada poderia detê-lo.
- Pare Daniel, ou eu mesmo terei que fazer isso. - Natanael disse.
- Você não pode me impedir, Natanael. Não ve que a muher que Deus deu a Adão não o quer? Não vê que é a mim que quer? Apenas estarei atendendo seus desejos! - Daniel gritou.
- Você não pode fazer isso! Sabe que é errado, sabe que foi assim que Lúcifer começou sua rebelião! Pare, é meu último aviso.
Mas Daniel não o ouviu, continuou sua marcha inalterada em direção aos portões. Natanael sacou sua espada e foi em direção ao querubim. Daniel previu o ataque e desviou e assim se iniciou uma luta, ambos chocavam suas espadas, trocavam socos, chutes.
Então por um breve momento, tomado pelo cansaço, Natanael baixou sua guarda. Daniel golpeou o irmão com o cabo da espada e o deixou desacordado no chão. Abriu os portões do Éden, encontrou Lilith o esperando, não resistiu ao impulso de sua carne e a possuiu, tomou a mulher de Adão e teve relações com ela, alheio a todas as consequências.
- Me leve com você, me leve com você pois Adão já não me aceitará de volta. Devemos fugir. - Lilith disse, agarrada ao corpo do anjo.
- Você será minha e somente minha, Lilith.
Levantaram-se e caminharam para fugir, mas foram impedidos. Em seu caminho estava Natanael, acordado e disposto a parar o irmão de quaquer forma.
- Ainda podemos limitar o dano, irmão. Entregue Lilith, seu erro será entendido e punido, mas a humana deve morrer!
Mais uma vez Daniel se recusou e novamente entraram em batalha. Uma batalha muito mais sangrenta, uma batalha pela vida ou pela morte. Lilith se escondeu, correu para dentro do jardim e de lá não mais retornou.
Enquanto Daniel, em um golpe impensado feriu Natanael e o matou. Finalmente caiu em si, entendeu seu erro, mas agora era tarde, estava feito, ele seria condenado. Logo após o acontecido o arcanjo Rafael surgiu cercado de sua tropa, eles levaram Daniel preso até a presença do Juiz. Sua pena foi pesada, sua sentença: permanecer nos calabouços do grande palácio celestial, torturado por mil anos, o responsável por sua tortura? O arcanjo Uriel, o inquisidor.
Lilith, como Daniel descobriu mais tarde, tentou matar Eva, mas falhou. Então foi visitada por Lúcifer com quem fez uma aliança, foi levada para as profundezas do inferno e lá se tornou rainha, entregando-se aos anjos caídos.
Após o período de tortura, Daniel foi recrutado pelo arcanjo Miguel, o príncipe dos anjos, onde lutou contra demônios em batalhas terrestres, sendo depois alocado para batalhas humanas, a fim de estudar o comportamento humano e a mantê-los sob controle. Na verdade era uma estratégia de Miguel para dar início à matança da humanidade, a criação dos anjos da morte.
Todas essas lembranças passavam pela cabeça de Daniel, ele jamais as esqueceria, nunca seria capaz de se perdoar por ter matado o irmão. De todos os erros que já cometera, matar Natanael era o pior, o mais imperdoável de todos.
Daniel caminhava com dificuldade de volta para casa, um velho apartamento em uma rua transversal à rua Voluntários da Pátria. Ao chegar em casa percebeu que a fechadura havia sido arrombada, alguém estava dentro do apartamento, ele podia sentir a presença, só não conseguia identificar.
Pegou a katana e colocou-se em posição de ataque, pronto para cortar qualquer invasor, de qualquer espécie, mortal ou imortal. Ao abrir a porta e entrar devagar pela sala não foi capaz de desviar do golpe que o atingiu em cheio no peito, uma pancada tão forte que o arremessou na parede oposta do corredor, fazendo ela rachar. A katana caiu no chão e Daniel ficou desacordado.

















Continua...................................................................

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Cap.12 - Paradise

Das sombras surgiu uma figura medonha, parecia-se com um samurai, vestindo uma armadura prateada, com uma longa katana em uma das mãos, seus olhos pareciam tempestades, sua voz ecoava pela viela e fazia os vidros das janelas tremerem. Atrás dele, imersa em sombras estava Lilith, a rainha do inferno. Mesmo que ela não desse as caras, Daniel sabia que ela estava ali, na espreita e ele deveria tomar cuidado, nunca se pode confiar nem mesmo em sua própria sombra quando ela está por perto.
- Veio pra um café, um saquê, talvez? - Daniel perguntou.
Susanoo se irritou com a ironia do renegado e empunhou a espada na direção dele. Daniel também pôde perceber as sombras se estendendo atrás dele, tentando envolvê-lo. Aquilo era uma armadilha.
- Está sendo muito insolente, renegado! Ou eu deveria dizer mortal? - Susanoo respondeu.
- Posso até ser um mortal, mas nós dois sabemos que venceria de você com minha imortalidade ou não. - Daniel sorriu
Daniel não tinha muita saída, as duas saídas estavam bloqueadas, uma pelo filho de Odin, Susanoo e a outra pelas sombras de Lilith, que naquele momento o preocupavam mais que Susanoo. O filho de Odin era um revoltado, rebelou-se contra o pai e contra Deus após a proibição e os limites impostos aos elementais, juntou-se ao seu antigo rival Lúcifer e agora liderava suas fileiras contra anjos, elementais e humanos.
Susanoo avançou em direção a Daniel com a espada em punho, vinha rápido como um trovão e só deu a Daniel tempo de desviar do ataque. Daniel então se jogou para a parede onde tropeçou em uma lata de lixo. Daniel estava completamente desarmado, sua única opção foi esperar Susanoo se lançar para um novo ataque, mas dessa vez ele não desviou. Jogou a lata de lixo em cima de seu oponente e assim que Susanoo se distraiu, abaixando a guarda pela surpresa, Daniel se lançou pra cima dele acertando um soco bem embaixo do seu queixo fazendo o elmo se soltar e voar longe.
Os longos cabelos grisalhos de Susanoo caíram em suas costas, mas ele ainda não se dava por vencido apesar e um pouco desnorteado.
- Ainda bem que a humanidade não te deixou lesado, torna muito mais agradável matar você! - Susanoo gritou.
- Estou esperando.
Susanoo avançou novamente, mas dessa vez Daniel não desviou rápido o suficiente, o cabo da katana acertou Daniel no peito fazendo ele se chocar com a parede a três metros de distância. Susanoo não deixou nem mesmo Daniel se levantar e partiu novamente para o ataque com a espada em punho, pronta para descer em um ataque fatal sobre o renegado.
Daniel conseguiu desviar no última momento jogando seu corpo para o lado. A espada foi fincada na parede e ficou presa. Susanoo tentou tirar a espada e foi o mometo de Daniel revidar. Daniel chutou as pernas de Susanoo fazendo ele cair no chão, partiu pra cima dele com os joelhos sobre seu peito e desferiu uma série de socos que fizeram Susanoo desmaiar. Ele então pegou uma adaga presa ao sinto de Susanoo e o fincou em seu coração.
O sangue passou a escorrer pela armadura formando uma poça em torno do corpo, a luz do luar refletia na armadura e na poça de sangue, transformando a cena em algo macabro. A brisa fria passou e a tempestade que se ouvia ao longe se dissipou. As sombras ao redor da viela pareceram se concentrar em um único ponto, um pouco a frente de Daniel. Ele já não tinha mais condições de lutar, provavelmente havia fraturado uma costela ao chocar-se contra a parede, estava cansado, exausto na verdade. Mas se tivesse que enfrentar Lilith, não perderia isso por nada.
Ele se levantou, pisando na poça de sangue, ficou de pé fixando a escuridão a sua frente e então sorriu, de um jeito irônico e nem um pouco amistoso.
- Lilith.
As sombras tomaram forma, uma mulher morena emergiu delas, os cabelos na altura da cintura, os olhos negros como a noite, usava um corpete negro e uma calça jeans que davam forma ao seu corpo. Ela sorriu ao ver o renegado, já se conheciam há muito tempo.
- Fazem séculos desde a última vez, não? - Lilith disse
- Acho que a última vez foi... 1789, França, certo? - Daniel respondeu
- Você era um sans cullote enquanto eu desfilava com aqueles saiotes por aí. Foram bons tempos, muitas mortes, muita tortura, me diverti bastante... Acho que você também pelo que me lembro. - Lilith disse irônica.
- Sempre preferi matar demônios, nunca humanos, cumpria ordens somente, mas me cansei de ser cão de caça de arcanjos. Você e eu temos uma conta a resolver, lembra-se? - Daniel disse
Ela se aproximou do renegado, ficaram tão próximos que quase se tocaram, a respiração de mabos estava ofegante, os rostos próximos. Daniel passou a mão pela cintura de Lilith e a beijou intensamente, um beijo de séculos, uma pequena sinceridade envolvendo ambos. Então ele levou a mão a cintura dela novamente, deslizou por sua perna até tocar o cabo da adaga presa a um cinto na cintura da demônio, ele puxou a adaga e no memso instante as sombras se desfizeram e e ela reapareceu mais a frente dele.
- Mas não é hoje que resolveremos isso, Lilith, leve seu general caído embora daqui.
Uma forte escuridão tomou o local e logo se dissipou. Lilith e o corpo morto de Susanoo haviam desaparecido. Daniel olhou novamente para a adaga em suas mãos, traziam lembranças de outros tempos, tempos remotos, seu primeiro erro, sua primeira queda, o momento em que descobriu que já não era mais um anjo, mas um humano alado.
Ele prendeu a adaga na cintura e caminhou para tentar retirar a katana da parede, levou um tempo, mas depois de provavelmente distender um músculo e lesionar ainda mais a costela, ele conseguiu tirar a espada da parede. Em breve ele a usaria, só ainda não sabia disso.














Continua......................................................

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Cap.11 - Forever Dead

Três anos se passaram. Nos céus, a guerra civil já se estendia ao longo de quinze anos com incontáveis baixas. As forças de Gabriel e Rafael lutavam arduamente para defender o paraíso celeste contra as forças de seus dois irmãos: Miguel e Uriel. Durante o terceiro ano, Miguel mandou um destacamento de 100 anjos à terra, para vigiar os humanos e colocá-los a caminho do apocalipse, Miguel tinha esperanças de que assim que a guerra celeste terminasse, e isso não deveria demorar já que as forças de Gabriel recebiam incontáveis baixas todos os dias, a Terra era o próximo passo no caminho da destruição. Liderando os anjos do destacamento estava Uriel.
A terra por sua vez caminhava rumo a destruição por si mesma não necessitando da interferência celeste. O planeta caminhava para uma inevitável e iminente Terceira Guerra Mundial, primeiro começou com incidentes com grupos de terrorismo virtual atacando à internet, mas logo a situação se agravou. Um incidente russo fez com que mísseis de uma antiga base soviética fossem lançados e devastassem a cidade de Istambul e consequentemente matando milhões de turcos. Um impasse mundial surgiu e o então presidente americano, partidário dos democratas e um pacifista, fosse à Moscou tentar entender o incidente, que desestabilizou a já tão frágil política euro-asiática.
O presidente americano foi sequestrado por forças libertárias da região da Chechênia. O vice-presidente, um republicano, assumiu o comando da nação e reuniu o exército, pronto para invadir a Rússia. Países europeus foram forçados a escolher um lado na disputa, fortalecendo antigas rivalidades nacionais e fomentando o nacionalismo exarcebado, por toda a Europa os conflitos se iniciavam.
Na Ásia a situação não era diferente, a instabilidade no Oriente Médio se intensificou, Irã aliou-se aos russos, sendo logo combatido por seus vizinho árabes, sofrendo sucessivas invasões israelitas, sírias e iraquianas, que eram supridas militarmente pela OTAN. Entretando, tendo em sua posse armas de destruição em massa, o Irã fez uso delas, rechaçando seus invasores, iniciando um conflito nuclear em pequenas propoções na região.
Os EUA moveram tropas para o Japão e prevendo uma possível insurgência na Coréia do Norte, atacou primeiro iniciando um conflito no outro lado da Ásia.
Na América Latina regimes nacionalistas estavam crescendo em países como Venezuela e Bolívia, mas ainda assim nenhum dos países assumiu um lado na guerra que estava para ser deflagrada. O Brasil caracterizava-se por um país neutro na disputa, tendo que enfrentar sua própria guerra civil. São Paulo decidiu iniciar um movimento separatista sendo amparado pela maioria dos estados sulistas e assim tropas militares foram deslocadas para Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro.
Em Brasília estava instaurado um jogo de poderes, todos prontos a dar um golpe, esperando apenas o primeiro passo de seus oponentes.
No inferno Lúcifer preparava suas hordas para marchar à Terra, sob os olhos angelicais, mas abandonadas por suas forças militares, defendida apenas pelos elementais, divindades criadas por Deus para guiar a espécie humana, mas até mesmo eles enfrentavam divergências.
Alguns elementais estavam divididos e ingressavam nas hostes infernais, revoltados com a proibição inicial de Deus, por terem seus filhos mortos, mas os principais eram os descendentes dos elementais que eram recrutados por infernais para lutar contra humanos e anjos.
Uma grande batalha estava se aproximando, uma batalha que estava para devastar o planeta e o que todos esperavam era o próximo passo, o primeiro movimento do adversário para poderem fazer suas próprias jogadas.

Botafogo - Rio de Janeiro

Um rapaz caminhava sozinho, estava calor, a cidade enfrentava um dos verões mais quentes dos últimos 20 anos. Ele vestia uma calça jeans e uma camiseta branca, dirigia-se para o bar em que sempre tomava uma cerveja antes de ir definitivamente para seu apartamento dormir. Não fazia isso porque gostava de cerveja, o que aliás detestava, fazia porque a bebida o fazia lembrar de outros tempos, tempos antigos onde ele caminhava entre os humanos, onde se sentia um deles, onde os protegia.
Ele estava lá quando a cerveja foi descoberta, fora enviado por Deus para guiar os hebreus e não deixar eles perderem a fé enquanto eram cativos no Egito. Ele foi chicoteado como toso os outros escravos, mas se sentia um deles, um hebreu, mas principalmente um humano. E foi esse sentimento que o levou a fazer coisas impensáveis, contestar ordens e se exilar no planeta.
Ele pagou pelas cervejas e caminhou para o apartamento, escolhera um simples, em uma rua pouco movimentada, mal iluminada, alguns diziam não ser segura, mas ele não se importava. Para alguém que já está caminhando sobre a Terra há mais de 30 mil anos, nada o assusta mais. Ele já não tinha mais nada a perder, não era humano, não era mais um anjo e nem um elemental, estava perdido entre os três fazendo seu próprio caminho, criando suas próprias escolhas. Ao virar a rua uma brisa suave começou a soprar e logo se transformou em um vento frio, um sopro gelado do oceano, as sombras atrás dele começaram a se mover e logo ele sabia que aquilo era uma emboscada.
Mas ele sorriu, não estava de bom humor, muito pelo contrário, o sangue corria rápido em suas veias, ele estava ansiando por uma batalha, era sua natureza, era um querubim guerreiro.
- Olá Daniel. - Uma voz fria e tempestuosa surgiu à sua frente entre as sombras, uma voz que ele conhecia, mas não ouvia há séculos.
- Olá Susanoo.












Continua......................................................