terça-feira, 3 de julho de 2012

Cap.24 - How Can I Live

Rafael começou a subir as escadas, ignorava todo e qualquer pedido que saísse da boca de Sarah. Ele não pretendia fazer mal alguma à garota, mas precisava vê-la afinal ela tinha seu "sangue", era sua sobrinha por assim dizer. Ao chegar no terceiro andar do hotel sentiu uma forte presença no lugar, uma presença que lembrava a aura de seus irmãos arcanjos, mas essa era diferente.
Essa aura não era só angelical, era mista, tinha algo a mais, algo tão ancestral quanto a aura angelical, uma aura pulsante de energia viva, como se a própria aura pudesse ser um ser independente do corpo. Ele caminhou na direção da porta de onde emanava esse poder, girou a maçaneta mas ouviu Sarah o chamando do corredor.
- Rafael, não!
Mas Rafael ignorou esse último apelo e adentrou no recinto. Bruna estava dormindo, coberta por ervas que funcionavam como uma pomada natural para restaurar o corpo debilitado pela luta. Rafael se aproximou e olhou para a garota, ela trazia lembranças à sua mente, lembranças de um irmão há muito tempo perdido... Ela lhe lembrava Emanuel.
- Olá, garota. - Ele disse, sua voz era suave.
Bruna acordou, inicialmente assustada, mas então uma paz invadiu seu ser ao olhar para o arcanjo, de certa forma ela sabia quem ele era. Sarah estava na porta, olhando a cena, esperando para saber como agir.
- Olá, Rafael.
Sarah estranhou que Bruna o conhecesse, mas então pôde ver que os olhos da discípula assumiram um tom diferente, estavam mais claros, mais luminosos, angelicais como os de Rafael. Seria aquilo que os celestiais chamavam de a consciência angelical? Um dom, uma força que unia todos os anjos, mesmo que jamais tenham se encontrado, uma força que os une, que os torna uma unidade.
Rafael sorriu, a garota de fato era descendente de Emanuel. Ele esticou a mão para cumprimentá-la.
- O arcanjo, a seu dispor.
- Como eu sei o seu nome? - Bruna perguntou como se acordasse de um transe.
- Eu sou... seu tio, por assim dizer.
- O irmão de Emanuel?
- O caçula e talvez o mais próximo. Você me lembra muito ele, algo nos seus olhos... É um prazer conhecê-la.
Bruna olhou para Sarah, tentando entender o que se passava ali, mas Sarah apenas acenou com a cabeça, indicando que estava tudo bem, que não havia nada a temer.
- Como me achou? - Bruna perguntou.
- Não estava procurando por você... Estava procurando por Sarah, ela é uma amiga antiga.
Bruna sorriu, notou o tom de voz do arcanjo e de como tanto ele quanto ela ruborizaram.
- Entendo.
Os três conversaram por um longo tempo, pareciam velhos amigos que há muito tempo não se viam. Bruna não guardou segredos do arcanjo, conto tudo, desde a morte de sua família até o último encontro com a irmã, Astaroth e Lilith. O arcanjo escutava a tudo maravilhado, falava de como eram as batalhas celestiais, das coisas que ainda estavam por vir, da eterna disputa entre Miguel e Gabriel pela raça humana.
Enquanto conversavam um caminhonete parou na porta do hotel. Uma Hilux, surrada, parecia que havia sido retirada de algum ferro-velho. Da caminhonete saíram três homens, um deles caminhava com dificuldade, o que parecia ser o mais velho. Dos dois mais novos um parecia ser sisudo enquanto o outro tinha a face mais leve, mas igualmente marcada pelo tempo e pelas batalhas. Subitamente os três pararam na porta do hotel.
- Está sentindo essa presença, Natanael?
- Estou irmãozinho... É um arcanjo e a julgar pela moto estacionada ali eu sugiro que seja Rafael. - Natanel disse
- O único dos príncipes celestiais que costuma vir à humanidade. - Daniel disse.
- Ele está com Sarah lá em cima, mas não ouço nenhuma luta ou perturbação, eu diria que estão conversando. - Odin falou.
Os três subiram em silêncio, caminhavam como gatos evitando fazer o mínimo barulho, suprimindo sua aura para que não fossem percebidos pelo arcanjo. Ao abrirem a porta do quarto de onde emanava a aura do arcanjo viram que tanto ele quanto Bruna e Sarah conversavam calmamente e até riam.
Daniel e Natanael ainda estavam tensos, Odin ficou tranquilo ao perceber o clima no local, mas os anjos estavam frente a frente com um general, um celestial do mais alto poder e eles dois eram de certa forma desertores.
- Olá Daniel, olá Natanael. - Rafael falou calmamente.
- Olá, Mestre. - Os dois responderam juntos.
No passado os dois querubins eram subordinados diretos do arcanjo, faziam parte de sua guarda até o fatídico momento em que foram designados por ele para guardar os portões do Éden. Rafael sorriu diante do cumprimento, era como se os anos não tivessem passado.
- Vocês dois estão diferentes meus amigos. Parece que a vida na Terra fez bem para ambos.
- Posso dizer que aprendemos uma coisinha ou outra. - Daniel disse.
- Eu diria que ainda estou para ver algo realmente importante. - Natanael respondeu.
Rafael riu e o clima pareceu ficar mais leve entre eles, a antiga amizade parecia estar intacta ainda.
- Quer dizer que estão preparando uma festinha para Lúcifer e nem me convidam? Como pretendem vocês 5 parar todo o inferno? - Rafael perguntou
- Daremos um jeito. - Daniel disse
- Darão um jeito? Não estão indo lutar com simples demônios, Daniel. Estão para enfrentar os seres mais ancestrais do inferno, anjos caídos e o rei deles, acha mesmo que pode dar conta deles?
- Como eu disse, teremos que dar um jeito. Somos tudo o que a humanidade tem. Enquanto os anjos disputam por quem deve ser o filho preferido de Deus a humanidade fica abandonada à própria sorte e aos lacaios de Lúcifer. - Daniel disse
- Não acha que a humanidade já está se destruindo por si só? - Rafael perguntou
- Acho que se a humanidade for se destruir por si só, que seja ela por si só sem a interferência de anjos ou demônios, que eles mantenham o livre arbítrio assim como o Pai ordenou. - Daniel disse
- Suas palavras são poderosas, mas acho que só está buscando uma causa pela qual lutar, anjo. Você passou anos de sua existência fugindo de si mesmo, já não tem mais vontade de viver, mas prefere morrer em batalha do que esquecido em um apartamento.
Daniel ficou calado, talvez Rafael estivesse certo, mas lá no fundo ele sabia que não era aquilo que realmente o motivava.
- Você pode estar certo, Rafael. - Natanael disse - Mas seja como for só descobriremos isso se tentarmos, se chegarmos ao limite. O que nos custa ajudar os humanos? Não estava fazendo nada mesmo e até que eles cozinham bem.
Rafael ficou calado, sabia que por mais que houvesse tensão entre os dois irmãos querubins, um sempre protegeria o outro.
- Pois bem, não tenho nada contra vocês e de minha parte fiquem tranquilos, nem eu nem Gabriel iremos nos meter nos seus assuntos. É sua vontade salvar a humanidade e tem meu apoio, só peço que não espere por nenhum apoio angelical, estamos meio enrolados em uma guerra agora....
- Vivemos anos, milênios na humanidade sem a sua ajuda ou a de qualquer outro anjo. Vocês brincam de Deus e dizem lutar pela humanidade mas ainda não vi você ou Gabriel movendo uma única centelha pela raça humana, vocês lutam por seu orgulho e sua vaidade e usam a criação de Deus como escudo para isso! - Daniel disse batendo na mesa.
Em outro momento aquilo teria significado a morte do anjo, o arcanjo teria fulminado ele com apenas um olhar, mas esses eram tempos diferentes, Daniel não temia a morte, procurava por ela na verdade e Rafael sabia disso. Pela primeira vez alguém havia sido tão sincero com ele.
Todos ficaram tensos nesse momento, não sabiam qual reação esperar do arcanjo, mas Daniel estava irredutível, não voltaria atrás, não pediria desculpas e tampouco abaixava o olhar, pelo contrário encarava Rafael.
- Você pode ter até razão, Daniel. Não somos seres perfeitos, por mais que queiramos e tentemos, somos apenas anjos, um pouco superiores aos homens, mas com os mesmos conflitos que eles. Podemos lutar por nossa vaidade, mas acredite em mim qunado digo que queremos lutar pela humanidade, queremos acreditar, deixar nossa arrogância de lado e lutar por algo que não sejam nossas próprias vidas, nós tentamos e ao longo dos anos temos conseguido. Não foi só você quem mudou, mas nós também, eu mudei.
- Todos mudamos de certa forma. - Natanael disse.


















Continua....................................................

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